quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Ovar

 Pormenores do centro da cidade:





No Furadouro um prédio aproveitou a fachada de duas casas típicas:


E em Válega destaca-se esta igreja coberta de coloridos azulejos: 



quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Castelo do Germanelo

[fonte]

Um post sobre este local não lhe faz justiça, porque ele merece é ser visitado. Do castelo pouco mais resta do que um pano de muralha, e mesmo esse foi construído pelo historiador de Penela Salvador Dias Arnaut, que comprou o castelo no século XX.


 


 

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Coimbra


Mais uma vez, vou citar um trabalho de quem está melhor informado, desta vez um artigo da autoria de Artur Côrte-Real, coordenador da intervenção arqueológica que pôs a descoberto o claustro deste monumento.

D. Isabel de Aragão decidiu fazer ressurgir o extinto Mosteiro de Dona Mór, obtendo, em 1314, autorização do papa Clemente V para a fundação de um mosteiro da Ordem de Santa Clara em Coimbra. A nova igreja do mosteiro foi concluída, possivelmente, em 1330, ano em que o bispo de Coimbra, D. Raimundo, procedeu à sua sagração. Segundo António de Vasconcelos, foi a partir desta data que se iniciou a construção do claustro principal, sendo conhecido que as obras eram já dirigidas pelo arquitecto Estêvão Domingues. 


Por esta altura teve início a dramática repercussão da escolha do local de implantação do mosteiro. Situado na margem esquerda do rio Mondego e assente, no dizer do mesmo autor, quando muito a 3 metros  acima da estiagem do Mondego, o mosteiro ficou desde logo à mercê das invasões das águas do rio. O que veio, de facto, a acontecer, inicialmente de forma cíclica mas depressa de forma progressiva e constante, em consequência do rápido processo de assoreamento do rio. 
Efectivamente, logo em 1331, a água penetrou na igreja devido a uma cheia de enormes proporções, de tal forma que chegou a cobrir o túmulo de grande lavor que D. Isabel havia mandado fazer para si e colocar na nave central da igreja. Para salvaguardar o seu mausoléu, e devido ao embaraço que este provocava no reduzido espaço público da igreja, a rainha ordenou a construção de uma capela superior, quase à altura das janelas, onde mandou colocar o seu túmulo e o de sua neta, a infanta D. Isabel. 

No século XV as inundações das áreas monásticas eram já muito frequentes. O rio ia-se assenhoreando do edifício, trazendo consigo a decadência das condições de salubridade e o aumento das doenças9 . No final do século XVI, o mosteiro estava já inabitável.

As dramáticas condições de vida no mosteiro conduziram à intervenção do bispo-conde D. Afonso de Castelo Branco que, entre 1612 e 1615, dotou a igreja de um pavimento intermédio no prolongamento da capela funerária. O bispo transformou a nova capela sepulcral com a construção de um duplo arco de cantaria destinado a albergar o túmulo de prata e cristal que havia mandado fazer para a rainha. [fonte]

Em 1666, Frei Manoel da Esperança dá conta do estado do mosteiro:

Conforme a estas plantas eraõ os mais edifícios, & oficinas da casa: todos grandes, suntuosos, & perfeitos (…) Porèm a nossa desgraça, que alterou a soberba do sobredito Mondego pera sepultar entre as suas arèas os mesmos campos, que se deixavão rasgar pêra ela ter passagem, o fez tãbem atrevido na fea destruição deste insigne mosteiro santificado por muitas servas de Deos, & mais em particular por esta S. Rainha. Corta por certo a alma ver taõ grande perdição; porque de alguas oficinas não ha mais que o seu rastro, & quasi todo desfeito pelas enchentes do rio. Outras jazem entulhadas com o lodo, sem se poder usar dellas. O claustro he hua cisterna viva, que nem no verão se seca. De maneira, que os baixos desta grandiosa machina, ou já perderão o ser, ou estão desfigurados, ou convertidos em charcos. Pelo que foi necessário levantar em muitas partes sobre as casas antigas outro mosteiro mais alto, & passar as capelas, & ermidas pêra a cabeça do claustro, onde estão coroando, a pezar deste tristíssimo pego, o monte da Santidade. A respeito destes danos, os quaes hoje são maiores, quis Elrei D. Manoel tirar d’aqui o mosteiro em virtude de hua bula do Papa Julio II; & se as Freiras então, por não saírem deste lugar tão sagrado, resistirão à mudança: agora, que se vem mais apertadas, aceitão com muito gosto, & grandes ventajens suas (…) [fonte]

A luta das Clarissas contra a água no velho mosteiro foi-se tornando insuficiente face às calamidades provocadas pelo rio. Foi no sentido de pôr fim a tão tortuosa batalha que o rei D. João IV ordenou, em 1647, a construção de um novo mosteiro no sobranceiro Monte da Esperança. Para esse novo espaço monástico foram transferidas as religiosas em 1677, vendo-se finalmente compelidas a abandonar o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, como desde então passou a ser conhecido. A igreja permaneceu ainda por algum tempo aberta ao culto, tendo posteriormente sido desactivada das suas funções religiosas, em data incerta.

Possivelmente contemporâneas da construção do piso superior, é a destruição das primitivas janelas góticas e a construção de barrocas no seu lugar, e a conversão do óculo traseiro na porta principal da igreja.


O primitivo mosteiro, que passou, a partir de então, a ser designado de Santa Clara-a-Velha, entrou num progressivo processo de destruição e abandono, tendo no século XVIII, a Câmara de Coimbra deliberado que, por razões de saúde pública, fosse demolido o remanescente das construções monásticas arruinadas. A igreja que pela sua solidez havia resistido às investidas arrasadoras das cheias, voltou a aguentar as medidas de demolição decretadas pela autarquia. [fonte]

Contrariamente à generalidade dos conventos, demolidos após a expropriação de 1834 com vista a aproveitar o seu material de construção, o convento de santa Clara-a-velha foi demolido devido às águas paradas que se encontravam no seu interior e que podiam ser fonte de doenças. Como o entulho resultante dessa demolição foi usado para soterrar o local, ainda lá permanecia quando o local começou a ser escavado em 1992, e está hoje depositado debaixo do novo edifício do museu.




Os arrendatários trataram de subdividir o espaço interior, adaptando-o a habitação e curral de animais. Em 1835 a igreja e o terreno do mosteiro passaram a ser propriedade de uma família nobre, através da compra efectuada por António Maria Osório. Foi só a partir de 1925, momento em que a igreja foi arrendada pelo Estado à família de D. Miguel de Alarcão, que se iniciaram os primeiros trabalhos de limpeza e restauro levados a cabo pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Esta operação, realizada fundamentalmente entre 1928 e 1948, pretendeu basicamente proceder à remoção das estruturas que “mascaravam” o monumento e reconstituir todos os elementos possíveis, ou seja, restituí-lo à sua configuração primitiva e evidenciar a  sua pureza original. 

O restauro efetuado durante o Estado Novo tornou o convento numa ruína romântica, visto ter sido escavada a nave, pelo que a água enchia agora novamente o espaço, tal como acontecia antes de ser abandonado pelas freiras.


Na foto de cima, podemos ver que o acesso se passou a fazer por uma janela, devido à porta ter regressado à sua configuração ocular original. Como o restauro do século XXI mexeu pouco na igreja propriamente dita, a janela nunca foi reconstruída, apesar de já não ser usada como entrada.




No entanto, em 1972 a igreja encontrava-se novamente coberta de vegetação.


Comprado pelo Estado em 1976, o edifício apenas saiu do esquecimento e do seu estado agónico quando, em 1989, o Instituto Português do Património Cultural (IPPC) lançou um concurso de ideias destinado à “Valorização da Igreja do Mosteiro de Santa Clara-a- -Velha de Coimbra”. O concurso foi ganho pelos arquitectos João Rapagão e César Fernandes, com base num programa elaborado pelo IPPAR.  A água, elemento dominante, permaneceria envolvendo o monumento. Devido à sua transparência tornar-se-ia possível visionar os níveis inferiores. A execução deste projecto não se veio a concretizar, face ao desenvolvimento da operação arqueológica entretanto desencadeada, a qual ao permitir a exumação de importantes testemunhos relativos à história deste conjunto monástico se tornou incompatível, no domínio da investigação e da preservação, com a empreitada prevista. 

E assim, a 18 de abril de 2009, quando o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha voltou a abrir portas, tinha o primitivo claustro para mostrar.









terça-feira, 13 de outubro de 2015

Igreja de Santa Justa, Coimbra

Mais uma vez, ficamos com as palavras de quem percebe do assunto, neste caso Ana Sofia Gervásio e Carmen Pereira, autoras de um artigo sobre a escavação que fizeram entre 2003 e 2004:

As notícias mais antigas que existem sobre a atual zona do Terreiro da Erva remontam a 1100, data de fundação de um mosteiro dedicado a Santa Justa, padroeira dos oleiros. De facto, a zona encontra-se em pleno bairro medieval das olarias. Na época afonsina a igreja, o claustro e as construções anexas, foram reedificadas pelo Presbítero Rodrigo, e no séc. XIII/XIV sofreram uma nova reforma.



Na igreja de Santa Justa mantinham-se os serviços religiosos, e apesar do templo estar reconstruído, o rio Mondego continuava a visitá-lo. No dia 1 de fevereiro de 1708 as águas entraram na igreja, chegando à tribuna do altar-mor. Nessa mesma noite o Santíssimo Sacramento foi retirado para a igreja de S. Bartolomeu, e a 24 de fevereiro do mesmo ano, foi transladado para a igreja de Santiago. Os danos forçaram o abandono da igreja de Santa Justa, e a criação da fundação de um novo edifício num olival em terreno sobranceiro à planície junto às portas de Santa Margarida. Em 24 agosto de 1710, o bispo conde D. António de Vasconcelos e Sousa benzeu e lançou a primeira pedra de construção da nova igreja, e no ano de 1724 foi sagrada pelo Deão da Sé, Luís Pereira de Sampaio, passando assim os serviços religiosos para a nova igreja. Esta nova igreja, homónimo da antiga, substituiu, assim, o templo medieval do Terreiro da Erva.

Na análise da planta datada de 1907 é possível vislumbrar um alinhamento das edificações perto dos indícios existentes da igreja. Esse alinhamento poderá ter sido originado pelo aproveitamento de uma pré – existência, nomeadamente uma das paredes do templo (realçado a verde). Nesta planta verificam-se igualmente os topónimos, que ainda hoje subsistem, indicadores da presença da igreja e da sua localização, como “Adro de Santa Justa” ou “Páteo do Prior”, hoje Quintal do Prior (realçados a vermelho). 



A demolição das casas que na figura anterior surgem com um círculo a verde explica-se por em 1934 o Adro de Santa Justa, o Quintal do Prior e o Terreiro da Erva, que circundavam a antiga igreja, estarem por elas separados, tendo-se com a sua demolição criado a praça que hoje existe.



Uma vez fui indagar um velhote, que sempre morou na zona, se havia algum vestígio da antiga igreja e ele apontou-me para uma gárgula num prédio como o único que conhecia.


No entanto, sobreviveram, reutilizadas como serralharia e mais recentemente loja de peças para automóveis, a capela mor e a capela do seu lado direito, que se encontravam assim no século passado:


Apesar disso, o projeto para o Terreiro da Erva previa a demolição deste imóvel (é o que surge da direita para o centro do largo):


No entanto, este projeto foi revisto e hoje já contempla a preservação das ruínas:


As obras discretamente já começaram, ficando a cabeceira da antiga igreja isolada das outras habitações, à espera do destaque que merece:




quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Hospital de S. Lázaro, Coimbra

Existe uma abrangente tese de mestrado sobre esta instituição, da autoria de Ana Rita Rocha, que vou passar a citar:

A cidade de Coimbra beneficiou, desde o início do século XIII, da existência de um hospital destinado ao acolhimento dos doentes que sofriam de lepra. Foi em Outubro de 1210 que D. Sancho I, no seu segundo testamento, deu ao abade de Alcobaça, D. Fernando Mendes, seu testamenteiro, 10 000 morabitinos “de quibus faciat unam gafariam in Colimbria”.


Esta instituição, tal como as suas congéneres, foi criada com o objectivo específico de acolher os doentes que padeciam de lepra. Por um lado, afastavam-se os leprosos da sociedade sã, de modo a evitar o contágio. Por outro, com o enquadramento institucional dos gafos, como também eram conhecidas as vítimas de lepra, eram lhes fornecidos os bens essenciais à sua sobrevivência. A Gafaria de Coimbra prestava assistência, igualmente, a indivíduos sãos, por comparação aos leprosos, que, pelo avançar da idade ou devido a uma doença debilitadora, necessitavam de auxílio económico, procurando-o junto de casas destinadas a esse fim.


Relativamente à arquitectura das leprosarias, estas instituições estavam munidas de todas, ou quase todas, as dependências necessárias à sua auto-suficiência, permitindo aos seus habitantes nelas permanecer o maior tempo possível, sem necessidade de se deslocar aos aglomerados.



Deste modo, numa grande parte de leprosarias existiam jardins, hortas e pomares, onde se colhiam os legumes e frutas utilizados na sua dieta. Além disso, o poço era um dos elementos essenciais numa gafaria, já que os leprosos não se deviam aproximar das fontes e nascentes para não contaminarem as águas. No entanto, no interior das leprosarias continuava a ser proibida a aproximação dos gafos a essa estrutura. Era o que acontecia na Gafaria de Coimbra, em cujo Regimento, datado de 1329, estava estipulada uma multa de 5 soldos em caso de “alguum gafo chegar ao poço”, mantendo-se, dentro da própria instituição, normas profilácticas. 



O medo de contágio da lepra era tal que, no século XV, no Regimento de D. Afonso V, temos notícia da existência, nessa mesma gafaria, de uma cadeia destinada aos leprosos que cometessem algum delito, justificando-se mesmo a decisão afirmando que “nom he razoado que sejam levados aa prissao dos saaos”.



No século XVI sabemos que o Hospital de S. Lázaro se situava num terreno entre as actuais rua da Figueira da Foz e avenida Fernão de Magalhães, na chamada azinhaga dos Lázaros, que partia da primeira em direcção ao Mondego, onde ainda no século XX se encontravam as ruínas do edifício. A localização quinhentista da Gafaria é confirmada pela existência de vestígios manuelinos, descritos por autores que visitaram o local, na centúria passada.



O primeiro indício de alteração do local de implantação da Gafaria de que temos conhecimento é a autorização dada por D. Afonso V, em Fevereiro de 1452, aos oficiais, lázaros e raçoeiros sãos para nomearem dois homens bons responsáveis por pedir esmolas pelo reino, com o objectivo de transferir o hospital para um terreno, que lhe pertencia, mais acima do lugar onde se encontrava, junto ao rio. A decisão do monarca surgiu na sequência de um pedido dos membros da gafaria, uma vez que as cheias anuais do rio tornavam a leprosaria inacessível e causavam demasiados danos materiais, colocando em risco a sobrevivência dos seus habitantes. 



Pelas referências espaciais, a deslocação assinalada corresponderia à mudança de S. Lourenço, na zona do Arnado, onde existia um porto fluvial e as inundações do Mondego eram muito frequentes, para o terreno junto da actual rua da Figueira da Foz, localizado mais acima, que poderemos interpretar como norte, e um pouco mais afastado do rio. Apesar de não existir um documento que nos indique a data de mudança de localização da Gafaria, sabemos que, em 1459, esta encontrava-se já na azinhaga dos Lázaros, junto da ermida de Santa Margarida. 

Como podem ter reparado pelas imagens, este local, onde se localizou o hospital desde pouco antes de 1459 até 1836, já esteve de melhor saúde. Como tudo o que é património arruinado e desprezado, tenho-o acompanhado há uns tempos. Em 2011, estava assim:



As maiores alterações decorreram em 2009 [fonte]:


Podemos comparar o local antes e depois da demolição:




O antigo Hospital dos Lázaros foi parcialmente demolido, ao nível do 1º andar, de emergência, devido ao avançado estado de ruína. Este trabalho consistiu no acompanhamento arqueológico da seriação de todos os materiais arqueologicamente relevantes. 
No dia 14 de Fevereiro de 2009 o Gabinete de Protecção Civil juntamente com a Câmara Municipal de Coimbra procedeu à demolição parcial do antigo edifício do Hospital dos Lázaros. Todo o entulho foi removido para o Choupal. Este trabalho consiste em realizar o acompanhamento da seriação dos materiais que compõem os entulhos, entretanto removidos para o Choupal. Este era constituído por madeiras, ferro, lixo, pedras de grande porte e cantarias. Destacaram-se as cantarias e outras pedras talhadas, que foram separadas, inventariadas e acondicionadas em armazém no estaleiro da Câmara Municipal de Coimbra a fim de, se possível serem reutilizadas posteriormente. Estavam muito fragmentadas e eram simples, sem ornamentos. 

Fazer a "seriação de todos os materiais relevantes" com fim a encontrar cantarias com "ornamentos" nas ruínas de uma instituição de solidariedade social é o mesmo que procurar um parque infantil num campo de concentração.
Um hospital da idade média não passa a merecer a demolição por não ser uma obra prima da arquitetura. Elas também existem, mas não estavam ao cuidado dos leprosos e outros doentes, para os quais as gafarias eram o único auxílio.
A demolição do Hospital de S. Lázaro em Coimbra, "devido ao avançado estado de ruína", é parte da maneira como escolhemos ver a nossa história. Publicitamos os palácios e os bens luxuosos da nobreza, e passamos um pano sobre todos os quais lutaram e sofreram antes de nós. É uma perspetiva puramente comercial do património, que só interessa se tiver características que apelem ao turismo de massas, independentemente do contexto e da sua importância para a sociedade (este imóvel, por exemplo, é um antecessor dos atuais hospitais).

O pior está ainda para vir. O terreno está à venda no Olx, divido entre a zona do parque de estacionamento e por debaixo da qual estão as fundações do hospital, por 970 mil euros, e as construções atualmente visíveis, por 650 mil euros, com a descrição "Ideal para construção de prédios, serviços e habitação."
Se a demolição anterior foi iniciativa da autarquia, há razões para esperar que ela se venha a opor a qualquer ação neste espaço.