quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Forte da Consolação, concelho de Peniche

Ando muito caseiro. Desta vez fui ao Forte da Consolação com o meu tio e a minha prima.


O Forte da Praia da Consolação, situado na Atouguia da Baleia, foi mandado edificar em 1641 por D. Jerónimo de Ataíde, Conde de Atouguia e senhor de Peniche. 


A edificação desta fortificação tinha como objectivo reforçar a defesa da enseada de Peniche, cruzando fogo com a fortaleza da vila. Na realidade, a sua construção inseria-se numa estratégia desenvolvida em toda a linha costeira do Reino, que visava a substituição da "(...) barragem de fogo das fortalezas por uma sucessão de pequenos pontos fortificados, segundo um princípio de mobilidade táctica (...)"



As obras de construção da fortaleza foram terminadas em 1645, mas poucos anos depois, em 1665, a estrutura da plataforma terá sido ampliada.. Cerca de cem anos depois, em 1755, o grande terramoto que assolou o país destruiu parte da bateria que estava voltada ao mar. 



Em 1947, já desactivado das suas funções militares, o Forte da Praia da Consolação foi ocupado por uma colónia de férias, e em 1974 foi instalada no local a sede da Associação Recreativa Forte Clube da Consolação.



Em 2003 a arriba onde assenta a fortificação estava assim:




Em 2012, já sem a muralha à vista:


Felizmente em 2014 houve uma grande intervenção na arriba, sendo colocadas estacas metálicas:


Que depois foram cobertas com cimento:


No meio disto o forte foi transformado num estaleiro. Houve duas sequelas - a fundação da grua obrigou a escavar um buraco no meio da antiga praça do forte:


E o acesso à arriba fez-se pelo antigo fosso militar:


Isto foi feito sem acompanhamento arqueológico, o que é uma pena. De qualquer forma, sem esta obra o forte não ia durar muito mais tempo, por isso o balanço é positivo.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Atouguia da Baleia, concelho de Peniche

A Lídia andava-se a queixar de que eu não lhe mostrava a minha terra, por isso levei-a a conhecer a Atouguia da Baleia, que não é a minha terra, mas é a antiga sede do concelho, portanto melhor.


Começámos pela Igreja de São Leonardo, que é para mim o melhor monumento do concelho.

A igreja de São Leonardo de Atouguia da Baleia é uma das principais realizações góticas que definem o que se convencionou chamar Gótico Paroquial, um fenómeno construtivo que percorreu grande parte do país, em particular as principais localidades do litoral, durante os reinados de D. Dinis e D. Afonso IV, entrando, mesmo, pelas primeiras décadas do século XV.



A construção do conjunto anda atribuída à transição para o século XIV e, estilisticamente, alguns autores reconhecem nela indícios de arcaísmo, em particular ao nível dos capitéis, embora esta apreciação mereça ser revista num século XIV bastante heterogéneo em termos decorativos. 


No início do século XVI, a matriz de Atouguia era uma importante igreja da Estremadura, a ponto de ser novamente enriquecida com empresas vincadamente manuelinas.
Nas décadas seguintes, o interior foi esteticamente actualizado, com inclusão de pinturas murais (de que restam escassos elementos), mas a história da igreja acompanhou, de perto, a da própria vila: a partir do momento em que Atouguia perdeu importância, em benefício de Peniche, a igreja ressentiu-se, não mais voltando a ser objecto de grandes reformas, o que permitiu que tivesse chegado até aos nossos dias em relativo bom estado de conservação.


Quando Peniche ainda era uma ilha a Atouguia tinha um porto (hoje está dois quilómetros afastada da costa) defendido por um castelo, do qual hoje resta um pano de muralha e um torreão:


Estes dois monumentos são melhor enquadrados se vistos do local por onde as embarcações acediam ao antigo porto, nesta foto que tirei para um post que escrevi sobre a Atouguia há quatro anos atrás (o primeiro do género que faço agora no blog atual, e que nem no título consegue esconder a inspiração).


Perto do castelo existe a Fonte de São Leonardo, à qual tirei esta foto há quatro anos:


Desde então a fonte ganhou um capitel e eu esta moça:


Possui cerca de seis metros de profundidade, mas ao tempo em que se laborava no porto, esta se mantinha ao mesmo nível deste. Com o assoreamento do vale, a mesma foi subindo suas paredes até chegar aos dias de hoje, como se encontra actualmente. No fundo da fonte, e do lado da igreja nasce a água por um buraco semi-circular, pois deve ter sido esse o seu princípio em tempos muito remotos, que deu água a tantas gerações. Soterrado um pouco abaixo do nível do actual piso, existe um brazão da Vila de Atouguia, que só tem um touro com um castelo em cada corno, diferente daquele que lá se encontra a descoberto possuindo dois touros, bebendo em uma pia.


A Fonte Gótica viu a sua envolvente ser arranjada, no entanto apresenta-se incompleta, visto que era coroada por ameias.


No início do século passado ainda havia vestígios da sua anterior glória:


Entre as duas fontes, há duas cantaria que chamam a atenção (calma, puristas! eu não estou a mencionar a do Largo de São Leonardo que pertencia aos antigos Paços do Concelho senão tinha de falar da sua demolição no início do século passado e vocês sabem como essas coisas me partem a alma). Esta é manuelina, portanto de inícios do século XVI:


Esta será porventura também manuelina, e tem uns detalhes muito interessantes:


Já a Igreja de Nossa Senhora da Conceição é de 1698:


E é assim a Atouguia da Baleia. Eu ainda gostava de falar um pouco sobre as pedras que se veem nesta ultima imagem e o significado do brasão, mas deixo para um próximo post visto que este já vai longo e tenho os livros em Peniche.