quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Celorico da Beira

Após mais de duas semanas a chatearem-me, finalmente aqui está o post sobre Celorico da Beira, o primeiro local que visitámos no nosso fim de semana pelo distrito da Guarda (sem passar por lá). 









Em relação ao castelo, é tudo. Desta vez fomos como a maioria dos turistas: tirámos uma foto com o castelo e pronto, siga almoçar (com o Sr. Presidente da Câmara de Celorico da Beira).


Na verdade, bem que gostaríamos de ter visitado o castelo mas não encontrámos nenhuma porta aberta. Resta consultar as fontes do costume.

Época pré-romana - é provável que, no local existisse um castro *1 (J.Almeida,M.R.Oliveira); época romana - construção da fortaleza, tese baseada em inscrição latina encontrada em 1635 e cujo paradeiro se desconhece (L.D.V.Silva, J.Almeida,M.R.Oliveira); séc. 12 - conquista aos mouros por D. Moninho Dola; concessão de foral sem data; realização de obras no castelo com a participação dos Templários (A.V.Rodrigues); 1198 - cerco dos leoneses, por Afonso IX, e socorro prestado por Linhares, cujo alcaide, D. Rodrigo Mendes, era irmão do de Linhares, D. Gonçalo Mendes; séc. 12 - realização de obras no reinado de D. Sancho II; 1217 - confirmação do foral por D. Afonso II; 1246 - cerco do Conde de Bolonha, pelo alcaide Fernão Rodrigues Pacheco ter jurado lealdade a D. Sancho II; séc. 14 - obras de reedificação no reinado de D. Dinis e de D. Fernando; séc. 16 - realização de obras; construção de um passadiço de comunicação com o chamado Poço d'El Rei; 1762 - assalto pelos espanhóis, danificando o castelo, sendo alcaide-mor Manuel Caetano Lopes de Lavre; séc. 19 - destruição da cerca exterior das muralhas, torre de menagem(?) e parte do castelo; o recinto fortificado teria maior perímetro que actualmente, abrangendo o primeiro núcleo habitacional, propondo J. Almeida um traçado que englobava perifericamente a Torre do Relógio. [fonte]


A Torre do Relógio é uma torre de planta quadrangular, que integrava o sistema defensivo da população. Provavelmente construída no séc. XIV/XV, era residência do Fidalgo da Torre. No séc. 18 é transformada em torre do relógio, mecanismo que antes se encontrava no castelo.


 [fonte]


E pronto, foi o post possível sobre Celorico da Beira, uma terra cheia de histórias e monumentos bonitos a conhecer. Fica para a próxima. Para a despedida, deixo-vos com uma foto de um gatinho que conhecemos na visita.


Longroiva, concelho de Mêda

Longroiva parece ter tido um passado imponente, mas o que existe hoje em dia não são bem os seus monumentos - são monumentos ao que foram os seus monumentos quando ainda não o eram (apesar de nunca o terem verdadeiramente passado a ser).

Em 1883 o pelourinho foi destruído "durante a abertura da EN 331; as peças foram utilizadas em construções particulares" e em 1961 houve o "restauro da responsabilidade de Adriano Vasco Rodrigues, que, após o inventário dos edifícios construídos ou restaurados desde 1883, localizou o fuste e o capitel, sendo o local escolhido pela Junta de Freguesia" . [fonte]



Mais recentemente foi escolhido como base de catavento:


Quanto ao castelo:

1174 - construção da Torre de Menagem com hurdício a mando de D. Gualdim Pais, Mestre da Ordem dos Templários como informa a epígrafe gravada em três silhares na fachada O.; séc. 16 - torre de dois pisos e edifício que constituía os aposentos do Comendador, de dois andares com cinco divisões em cada, com chaminés em tijolo e forro interno de madeira, a que se adossavam casa de hóspedes, cozinha com forno, celeiro e estrebaria; 1733 - casas de residência do comendador encontravam-se destelhadas e em ruína, a cisterna entupida, o castelo sem portas, sobrevivendo apenas a torre; séc. 18, último quartel - o castelo começou a ser desmantelado; 1820 - 1843 - num desenho de Carvalho de Magalhães e Vasconcelos (publicado na revista universal Lisbonense, (1844 - 45) são ainda visíveis os troços da muralha da cidadela, que se prolongava para N. da torre de menagem; séc. 19, fins - transformação do castelo em cemitério. [fonte]

Parte da parede exterior do castelo sobreviveu porque foi reaproveitada como recinto do cemitério:


E a torre também permaneceu, talvez porque não a conseguiam deitar abaixo (?):


Há uma igreja e uma capela encostadas uma à outra, atrás das quais se ergue uma torre construída em 1950, e feita com a pedra da original, que ruiu nesse ano.


Já a Capela de Nossa Senhora do Torrão parece ter levado um restauro abonecado nos seus quadros a óleo:





Em Longroiva vimos por isso uma reconstrução criativa do pelourinho, um cemitério que terá correspondido a parte de um castelo, uma torre que foi feita com as pedras de uma outra, e uma recriação infantil do interior de uma capela.
Se com Platão os homens na caverna apenas podiam ver sombras da realidade que os rodeava, em Longroiva apenas podemos induzir os seus monumentos reais nas reproduções que lhes fizeram. Podíamo-nos armar em puristas e dizer que isto tudo é de muito mau gosto. Mas na verdade é kitsch português genuíno.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Vila Nova de Foz Côa

À chegada a Foz Côa apanhámos um incêndio:






Foi chato, mas lá continuámos a viagem:


Em Foz Côa chamou-me a atenção um emparedamento que passaria despercebido não fosse a atenção que lhe propositadamente é dada (nem o nº de porta falta - será por obrigação legal?)


E à Lídia chamou a atenção esta parede que revela os segredos escondidos da construção de casas de xisto.


Agora os leitores já podem construir a vossa própria casinha de xisto (estava a brincar, são construções horríveis e vão cair em cima dos vossos filhos quando estiverem a dormir).

O que mais me impressionou em Foz Côa foi no entanto a Igreja Matriz:


O portal é uma obra prima manuelina, mas fiquei fascinado quando ao entrar percebi que o lado direito da igreja estava inclinado como nunca tinha visto em nenhuma outra construção:


Será o maior testemunho do mítico terramoto de 1755 que ainda existe? (já que o Convento do Carmo faz mais pelos restauros românticos do século XIX que pelo terramoto em si)


sábado, 17 de setembro de 2016

Marialva, distrito da Guarda

Marialva é a primeira Aldeia Histórica que visitei (ficam longe) e divide-se em três núcleos - Devesa, Arrabalde e intra-muros.

A zona da Devesa fica no sopé do monte e é a mais recente. Esta é uma construção típica do concelho de Mêda:


O Arrabalde é mais antigo - fica abaixo da muralha que circunda o primitivo povoado:

 

Em 1527/32 viviam 73 morados no Arrabalde e 68 intra-muros, enquanto em 1732 eram 76 fora e 32 dentro. Nesta altura era alcaide mor o Marquês de Távora, o que se revelou desagradável já que depois da sua condenação o castelo caiu em ruínas e o espaço intra-muros foi completamente abandonado, sendo utilizado no século XX já só para espaços públicos - duas igrejas, cemitério e escola primária (na antiga câmara, que foi sede de concelho até 1855). [fonte]

O espaço intra-muros está hoje todo destruído, tirando algumas reconstruções que para bom entendedor meia parede basta.




A Torre de Menagem foi reconstruída pelo Estado Novo em 1942, e comparando com uma foto que vá se lá saber como a Lídia tirou exatamente do mesmo sítio de uma anterior (e ela não tirou assim tantas) podemos ver como são insondáveis os critérios dos restauradores:



E as ameias amigos, onde as meteram?

Há uma outra particularidade que podemos ver nesta foto, que é a aldeia estar cheia de oliveiras, plantadas pelos habitantes nas casas dos antepassados (sem conotação histórica, só mesmo pelo azeite).

Outra espécie que encontrámos dentro do recinto fortificado de Marialva foi a figueira-do-inferno, que chamou à Lídia os seus instintos básicos de agricultora e se pôs desfreadamente a colhê-la para travar a sua disseminação.


A melhor forma de ter experiências etnográficas nos lugares que visito continua a ser trazer sempre toda uma etnografada na mala do Nissan.