Participei numa caminhada dos Trilhos do Mar que passou na Quinta da Moita Longa, na Lourinhã.
Sede do Morgadio instituído pelo inquisidor João Delgado Figueira, (1585 – 1655) é uma construção de raízes quinhentistas, constituída pelas casas nobres, capela e jardins.
A capela dá para o pátio de entrada, de fachada de empena de bico, toda revestida de azulejos de figura avulsa, onde se vê no tímpano e sob o óculo, um painel com a Ascensão de Cristo e a data de 1696. [fonte]
Não visitei o interior, que também tem bastante interesse:
Aconteceu que há cinquenta anos atrás o meu avô estava a preparar a capela para o casamento de uma tia minha, quando uma empregada caiu de um escadote enquanto estava a limpar a dita parede e o cotovelo atravessou a divisória falsa que separava a capela-mor do corpo da capela.Tal foi o espanto quando através do buraco viram o ouro do altar a brilhar. [fonte]
O altar de talha dourada da capela tinha sido tapado devido às invasões francesas. Hoje em dia a quinta é usada para eventos e turismo rural:
É um local muito bonito, e o post ficava por aqui, não fosse o trabalho de António Luís Botto e Sousa Quintans (é só uma pessoa), cuja família é proprietária da quinta. Encontrei dois textos com 12 anos de diferença onde reinvindica origem romana para este local. Seguem-se passagens do mais recente, ao qual o autor se preocupou em dar um aspeto mais científico:
Muito se tem dito e escrito acerca da origem do topónimo Lourinhã.
[...]
Lauriana é a junção do substantivo lauro ao sufixo ana, que indicia procedência.
[...]
Assim sendo, Lauriana traduz-se em "terra de Lauro", tal como Cíceroiana se traduz em “terra de Cícero”.
[...]
No tempo de Marco Aurélio, imperador de Roma que viveu entre 121 -180 d.C., existiam na Lusitânia duas localidades, que pela sua situação geo-estratégica, assumiam lugar de relevo: o porto de mar da Atouguia, que mais tarde, no inicio da Nacionalidade, viria a ser oferecido por D. Afonso Henriques à Ordem dos Templários – onde a partir daqui faziam a ligação marítima entre a Europa e a Terra Santa (Anais do Convento de Cristo, Tomar) –, e, a civita (cidade) de Eburobrittium, recentemente descoberta junto a Óbidos.
Segundo o Prof. Jorge de Alarcão[2] , Eburobrittium era governada por catorze senadores, entre os quais Caio Julio Lauro, que teria a sua villa em local perto de Miragaia (Lourinhã), que tudo indica ser a Quinta da Moita Longa.
Assim sendo, Lauriana traduz-se em "terra de Lauro", tal como Cíceroiana se traduz em “terra de Cícero”.
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No tempo de Marco Aurélio, imperador de Roma que viveu entre 121 -180 d.C., existiam na Lusitânia duas localidades, que pela sua situação geo-estratégica, assumiam lugar de relevo: o porto de mar da Atouguia, que mais tarde, no inicio da Nacionalidade, viria a ser oferecido por D. Afonso Henriques à Ordem dos Templários – onde a partir daqui faziam a ligação marítima entre a Europa e a Terra Santa (Anais do Convento de Cristo, Tomar) –, e, a civita (cidade) de Eburobrittium, recentemente descoberta junto a Óbidos.
Segundo o Prof. Jorge de Alarcão[2] , Eburobrittium era governada por catorze senadores, entre os quais Caio Julio Lauro, que teria a sua villa em local perto de Miragaia (Lourinhã), que tudo indica ser a Quinta da Moita Longa.
[...]
A sua pedra tumular foi reutilizada e colocada numa das esquinas exteriores do altar da igreja de São Lourenço dos Francos, em Miragaia, uma povoação que fica próxima da Moita Longa (3 km).
É [na Quinta da Moita Longa] que vamos encontrar os tão almejados vestígios de uma villa romana: a muralha com 120 metros de comprimento que cerca um dos lados dos jardins; os dois tanques situados em dois planos diferentes – um com o dobro das dimensões do outro –, característica tão peculiar da arquitectura romana; as lajes à volta dos tanques, feitas à base de óxidos de ferro e recobertas de engobe vermelho não vitrificado; um marco feito com os mesmos materiais cuja marca do oleiro é a letra "v", que toponómicamente significa villa; as pedras calcinadas das antigas termas (a água em contacto com as pedras calcinadas, lança vapor); e os arcos de pedra de volta perfeita descobertos na mata de loureiros que cerca o outro lado dos jardins (o loureiro era a árvore que os Romanos consagravam a Apolo, deus do Sol). [fonte]
A sua pedra tumular foi reutilizada e colocada numa das esquinas exteriores do altar da igreja de São Lourenço dos Francos, em Miragaia, uma povoação que fica próxima da Moita Longa (3 km).
É [na Quinta da Moita Longa] que vamos encontrar os tão almejados vestígios de uma villa romana: a muralha com 120 metros de comprimento que cerca um dos lados dos jardins; os dois tanques situados em dois planos diferentes – um com o dobro das dimensões do outro –, característica tão peculiar da arquitectura romana; as lajes à volta dos tanques, feitas à base de óxidos de ferro e recobertas de engobe vermelho não vitrificado; um marco feito com os mesmos materiais cuja marca do oleiro é a letra "v", que toponómicamente significa villa; as pedras calcinadas das antigas termas (a água em contacto com as pedras calcinadas, lança vapor); e os arcos de pedra de volta perfeita descobertos na mata de loureiros que cerca o outro lado dos jardins (o loureiro era a árvore que os Romanos consagravam a Apolo, deus do Sol). [fonte]
[...] por fim, o Arco da Quinta da Moita Longa, onde não poderia faltar uma magnífica representação do Sol e que serviu como inspiração a tantos poetas e escritores que por aqui passaram. Relembro por exemplo Gil Vicente, quando ao escrever o "Tempo de Apolo", a dado passo diz que o Sol nasceu na Lourinhã. [fonte]
Arcos de pedra perfeita, arcos com representações do Sol - não restam dúvidas quanto ao romano que tudo isto é. O que chamou mais a atenção foi no entanto a "muralha". Está repleta de nichos, o que lhe dá um ar bastante pitoresco:
No entanto, observando em pormenor, verificamos que a construção destes nichos recorre a materiais mais sofisticados:
Há outra razão para o muro não ser romano - está no meio de uma encosta. Admitem-se muros romanos em planícies (por exemplo em Conímbriga), não os consigo imaginar a sobreviver a um milénio de abandono no meio de uma encosta sem serem subterrados.
O post já vai longo, mas o autor faz questão de nos informar que é a Quinta da Moita Longa "o aparente local onde Camões se inspirou para escrever a Ilha dos Amores" e que nela existe uma cripta onde está escondido o tesouro dos Templários. Muito mais consta no livro que o proprietário escreveu sobre a história da quinta com o humilde nome "Quinto Império - Testemunhos de uma história verídica". Segundo o Jornal de Mafra, correu assim a apresentação do livro na Ericeira:
Na verdade houve ontem à noite, na Ericeira, um acontecimento surpreendente, ou uma sucessão deles, protagonizados não pelo autor da obra, que ficou secundarizado, ensombrado (para utilizar uma imagem consentânea com o tema da obra) pela pessoa que foi escolhida (não chegou a ficar claro, por quem) para apresentar o livro. Manuel Gandra. [...]
Apresenta o livro classificando-o expressamente, de ingénuo e anacrónico. Confessamos que já assistimos a muitas apresentações públicas de livros, apresentações protagonizadas por pessoas muito diferentes, mas nunca tínhamos assistido, como ontem, a alguém que foi convidado para apresentar um livro, com o autor ao lado, ter-se referido à obra como sendo ingénua e anacrónica. Mais valia que o bom senso tivesse prevalecido, o ego se tivesse amainado, e que a obra pudesse ser apresentada por alguém que a apreciasse ou então que se deixasse essa tarefa exclusivamente ao autor. O que se passou ontem à noite foi, no mínimo, muito deselegante.
Atualização: Em toda a sua glória, o vídeo! Isto é fantástico:
Meu caro amigo: a foto que apresenta da muralha romana, reporta a um espaço que caiu e foi restaurado nos anos 70 do séc. XX. Relativamente ao Jornal de Mafra, lembro-lhe que só se deve falar com conhecimento de causa. Admito todas as críticas e agradeço. Acontece que ninguém desse jornal falou comigo, mau jornalismo, ao contrário de tantos órgãos de comunicação social, entre os quais o Expresso.
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário, Sr. António. Eu fiquei fascinado com a história à volta da quinta, pois eu também tento sempre fazer o máximo de associações possíveis entre diferentes contextos. Na maioria falho, mas quando acerto acho que dei um bom contributo para a história local (e talvez compense as vezes em que me estiquei de mais...)
Eliminar"Lembraste-me agora de um tempo antigo, embora para mim pareça que foi ontem: há na Lourinhã uma quinta milenar, a quinta da Moita Longa, a uns 2 quilómetros da casa dos meus pais, no Casal Caldeira. A quinta deve ter tido origem durante a ocupação romana, como atestam o bosque de loureiros e a muralha romana. Um tal cônsul romano de nome Laurus por lá terá construído a sua villa e terá também dado o seu nome à Lourinhã. No limite da quinta, e num vale cavado corre o rio Toxofal, um ribeiro que esconde umas ruínas interessantes, hoje ignoradas por toda a gente: um tanque enorme de pedra encimado por uma fontainha onde nos abasteciamos de água fresca,um segundo tanque mais pequeno e mais baixo, um poço açoreado cheio de lodo, muitos choupos, e juncos, muitos juncos. Era aí que o meu pai e o meu tio Armando iam todos os anos apanhar os ditos juncos por alturas de Agosto. Mais tarde esse junco seria usado na empa das vinhas. É esse tempo que agora recordo, os homens a arrancar junco dos charcos, a atirar os os molhos de junco contra o ripanço, engenho constituído por uma tábua com um pente com dentes de aço virados para cima em plano inclinado, suportado por um cavalete, e que servia para limpar o junco de ervas e das folhas do junco. Lembro as mulheres sentadas à sombra fresca do choupal a escolher as melhores plantas, o junco espalhado em leques de verde pelo chão plano de um espaço que já teria sido pátio de uma casa, e as crianças - onde me incluía - a brincar no ribeiro e nos charcos, a apanhar peixinhos e cobrinhas de água, ou enguias que os adultos fritavam para o almoço. Posso fechar os olhos e retomar a esse tempo feliz. Sinto o cheiro da terra quente e húmida, fértil como só a terra rica em água e húmus consegue ser. Vale pequeno e esquecido, hoje totalmente perdido entre canas e silvados. Vestígios de um tempo menos antigo, (só tem 9 séculos), em que os monges e engenheiros da ordem de Cister secaram aquelas terras pantanosas, e onde restam hoje os vestígios de pedra desse esforço que fez recuar o mar mais de uma dezena de quilómetros, até à Areia Branca. Para mim ficou o tempo feliz da infância breve. Ainda hoje, quando passo por um jardim que esteja a ser regado, ou onde a relva esteja a ser aparada, retorno de imediato ao tempo da terra quente a cheirar a seiva fresca, aos risos felizes de crianças e adultos, à vida que então corria doce e despreocupada".
ResponderEliminarEm memória de todos os Caldeiras e Quintans que emprestaram vida a este pedaço de terra e de História, honra e respeito pela amizade que sempre os uniu e que a nossa geração hoje mantém intacta. Abraço fraterno aos ilustres amigos da família Quintans do Sérgio Caldeira, filho do João Caldeira e da Maria do Carmo. Saudações também ao criador deste blog e deste interessantíssimo post.
Obrigado. Tenho de reconhecer que há muito para explorar neste sítio, a minha análise foi demasiado redutora.
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