sexta-feira, 18 de março de 2016

Castelo de Penedono


O artigo que vou citar é da autoria de Manuel António Lourenço de Campos Almeida e é baseado num livro de João Ferreira da Fonseca:
(...) à semelhança da torre de menagem do castelo de Trancoso, identificada como antigo castelo condal do século X, também o castelo de Penedono teria começado por ter uma única torre, edificada nos penhascos, depois ampliada após as campanhas do rei leonês Fernando Magno, nos fins do século XI, princípios do século XII. 



A existência dos traçados mais antigos, com muros de altura mais reduzida, cerca de metade dos atuais, de recorte ameado de secção rectangular e com aberturas de pequena dimensão, é denunciada pela observação atenta das paredes das muralhas. A muralha antiga acompanhava e contornava o terreno fragoso, formando um pequeno pátio interior, capaz de abrigar uma pequena hoste. 


Após a crise de 1383-85, o castelo de Penedono foi muito beneficiado por obras de remodelação, dotando-se de melhores condições de defesa e de habitabilidade. Sobre as muralhas ancestrais foram erguidos novos muramentos, elevando a cota da altura da fortaleza. Para suportar e melhor distribuir o peso das novas muralhas, as paredes do castelo foram alargadas e coroadas com ameias, terminadas em forma pentagonal, intercaladas por aberturas. Nas arestas foram construídos cinco torreões de planta diversa. Outra das inovações introduzidas foi a barbacã, estabelecendo um perímetro muralhado, contornando a formação rochosa onde assenta o castelo, a partir do preenchimento das falhas entre os rochedos, e que passou a ser uma primeira linha de defesa. 



Os castelos condais serviram também como moradias das elites nobiliárquicas, mas, com o advento de tempos mais pacíficos, estes nobres mandaram construir novas residências, edifícios mais amplos e confortáveis, o que também aconteceu com os senhores de Penedono, Gonçalo Vasques Coutinho e seus descendentes, que passaram a privilegiar a comodidade dos paços da sua linhagem, em vez do desconforto e singeleza dos diversos castelos que possuíam. Assim, o castelo de Penedono passou a estar mais voltado para funções estritamente militares e nele estaria uma pequena guarnição formada por escudeiros, besteiros e peões, comandada por um alcaide, homem de boa linhagem e de confiança. Indispensáveis ao castelo eram ainda alguns mesteirais como carpinteiros, ferreiros e armeiros, que zelavam pela sua conservação e funcionamento. Os diversos cunhos abertos nas paredes do castelo atestam e evocam os fortes caibros que suportavam o interior, entretanto desaparecido. Essas marcas sugerem que o castelo possuía três pisos interiores: – rés-do-chão, primeiro andar e segundo andar, pelos quais se distribuíam os espaços habitáveis. 



O piso térreo, ao qual se acedia pela porta principal, incluiria o cárcere, um pequeno estábulo e ainda algumas arrecadações para palhas, lenhas, adega e tulha de cereais. Por uma escadaria interior talhada em pedra, acedia-se ao primeiro andar, onde se encontraria o salão principal, munido de janelas, que era o espaço mais importante, onde o senhor ou o seu alcaide recebiam e tratavam da administração e dos negócios, tomavam decisões e festejavam com visitas e amigos. Neste piso poderiam ainda existir pequenas câmaras e antecâmaras, separadas por paredes de madeira ou de taipa e, para se sobreviver às invernias, ali se encontrava a lareira. Uma outra escada dava serventia ao segundo andar, construído aquando da ampliação das muralhas. Aí se encontravam acomodações mais privadas, limitadas por paredes de madeira ou de taipa, acessíveis por estreitos corredores. Do último andar acedia-se ao caminho da ronda ou adarve, que circundava todo o castelo e era palmilhado pelas sentinelas.

Este castelo chegou até nós bem preservado, no entanto em 1940 o Estado Novo foi responsável por algumas modificações, sobretudo ao restaurar as ameias (nas fotos de baixo a maioria já está restaurada mas duas ainda não) e retirar construções superiores (podemos ver um sino, um barraco e as escadas de acesso).



Em 1953 foram colocadas as guardas de proteção em alguns sítios, sendo que só muito recentemente se colocaram a todo o perímetro. Isto não evita algumas quedas que de vez em quando acontecem neste castelo.


1 comentário:

  1. Filho, obrigada por este post que é um autêntico retorno às minhas origens e à minha infância. A casa dos meus avós maternos fica mesmo a 2 passos do castelo. Foram muitas e muitas tardes a brincar neste espaço, a subir e a descer as pedras e as escadas, a percorrer aqueles corredores junto às ameias, que não tinham qualquer proteção. Hoje já não seria capaz e até me arrepio das "proezas" que consegui viver. Para entrar no castelo era preciso ir pedir a chave ao Luís Martins, um primo nosso que tinha um estabelecimento comercial lá perto. Quantas vezes lá fui pedir a chave e entrava dona e rainha do "meu" castelo! Ainda hoje o castelo domina todo o imaginário da minha infância!

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