quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Sinagoga de Tomar

O primeiro dos muitos locais com que vou atafulhar a internet nos próximos dias é a Sinagoga Tomar, um edifício que passa despercebido aos turistas (só o visitei por indicação de um alfarrabista). Evitaremos referências à Santa Inquisição, mas não resistimos a citar a Santa Wikipédia.

A Sinagoga de Tomar é o único templo judaico proto-renascença existente actualmente no país. A sala destinada ao culto desenvolve-se num espaço de planta quadrada, com piso inferior ao do exterior, dividido em três naves de três tramos, apresentando uma tipologia semelhante à de outras sinagogas sefarditas quatrocentistas. O tecto, em abóbada de tijolo de arestas vivas, é suportado por quatro elegantes colunas, com capitéis de lavores geométricos e vegetalistas, e por mísulas embebidas nas paredes. A disposição destes elementos encerra um significado simbólico: as doze mísulas simbolizam as doze tribos de Israel, enquanto que as quatro colunas representam as quatro matriarcas – Sara, Rebeca, Lea e Raquel. Estas duas últimas matriarcas são as filhas de Labão, facto que explica a razão por que os capitéis são iguais em duas colunas e diferentes nas restantes.


Para efeitos acústicos, encontram-se colocadas, embutidas na parede dos cantos, oito bilhas de barro viradas ao contrário, que comunicam com a sala através de orifícios.


Depois de algumas escavações feitas no local, foi encontrada uma sala de planta rectangular, adossada ao edifício principal, destinada ao mikvah, o banho ritual de purificação das mulheres.




E como miminho aqui segue a contextualização histórica:

O rápido crescimento demográfico, ao longo do século XV, suscitou a criação de uma judiaria, com o encerramento de portas entre o pôr e o nascer do sol. Estas portas situar-se-iam nas extremidades ocidental e oriental desta rua, que passou a ser designada de Rua da Judiaria, mais especificamente nos cruzamentos com as Ruas do Moinho e Direita, respectivamente. A situação da Judiaria, próxima do centro económico e social da então vila, é bem demonstrativa da importância que a comunidade assumiu na sociedade nabantina. De facto, calcula-se que a população judaica de Tomar andasse, em meados do século XV, em cerca de 150 a 200 indivíduos, tendo chegado a atingir uma significativa proporção de 30 a 40% do total de habitantes da vila, na sequência da chegada dos judeus espanhóis, expulsos em 1492.

É neste contexto que se dá a fundação da sinagoga, em meados do século XV, motivada pelo crescente número de fiéis. A construção deu-se por ordem do Infante D. Henrique, que ao que tudo indica protegia a comunidade hebraica da vila, facto a que não é alheio o cargo que exercia, de mestre da Ordem de Cristo. No entanto, a existência deste templo seria efémera, pois logo em 1496, com a conversão forçada dos judeus ao cristianismo decretada por D. Manuel I, a Judiaria da vila, à semelhança de todas as outras do reino, é abolida, sendo também encerrada a sua sinagoga. O nome da rua é então mudado para Rua Nova, transitando muitos dos cristãos-novos (judeus convertidos ao cristianismo) para outros arruamentos, enquanto cristãos-velhos se instalavam nas casas deixadas devolutas.

O espaço da sinagoga passou então, a partir de 1516, a ser utilizado como cadeia pública. Entre os finais do século XVI e os inícios do XVII, depois das necessárias obras, o edifício passou a local de culto cristão, como Ermida de São Bartolomeu. Após a sua profanação, no século XIX, o antigo templo foi utilizado como palheiro, servindo em 1920, aquando da visita de um grupo de arqueólogos portugueses, de adega e de armazém de mercearia. No ano seguinte, o edifício foi classificado como Monumento Nacional, tendo sido adquirido em 1923 pelo Dr. Samuel Schwarz. Este judeu polaco, investigador da cultura hebraica, suportou obras de limpeza e desaterro, doando o edifício ao Estado em 1939, sob a condição de aqui ser instalado um museu luso-hebraico.


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